03 de Junho, 2025 11h06mSaúde por Agência Brasil

Diretriz para tratar obesidade aborda uso racional de remédios

A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) apresentou a nova Diretriz Brasileira para o Tratamento Farmacológico da Obesidade

A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) apresentou a nova Diretriz Brasileira para o Tratamento Farmacológico da Obesidade.

Segundo a associação, o documento representa um marco para a prática clínica no país ao reconhecer a obesidade como uma doença crônica que requer cuidado contínuo e abordagem individualizada.

“É uma mudança de paradigma. O objetivo não é mais apenas normalizar o peso, mas sim promover saúde, funcionalidade e qualidade de vida com metas possíveis e sustentáveis”, explica o endocrinologista Bruno Halpern, vice-presidente da Abeso.

Uma das principais propostas é adotar metas mais realistas e clinicamente relevantes, como a perda de ao menos 10% do peso corporal, com foco na melhoria de comorbidades como diabetes tipo 2, hipertensão, apneia do sono, osteoartrose e doença hepática associada à disfunção metabólica.

Ao contrário de abordagens anteriores, que miravam a normalização do Índice de Massa Corporal (IMC), a nova diretriz prioriza a funcionalidade, a qualidade de vida e a individualização do tratamento.

Segundo o endocrinologista Fernando Gerchman, coordenador do grupo de trabalhos para elaboração da diretriz farmacológica, este é um guia clínico construído com base em evidências e voltado à realidade brasileira, que respeita a individualidade do paciente e valoriza a decisão compartilhada.

“A diretriz anterior é de 2016. De lá para cá foram lançadas três novas medicações para obesidade no Brasil: liraglutida, que é o Saxenda; o Contrave e o Wegovy que é igual ao Ozempic mas na dose da obesidade que é 2,4mg. E agora vem o Monjauro", esclarece Gerchman. 

"A primeira coisa que nós trabalhamos foi tentar entender qual é o impacto de associar mudanças de estilo de vida com educação física e dieta ao impacto do uso das medicações de obesidade”, disse Gerchman.

De acordo com o médico, as medicações são indicadas para quem tem IMC acima de 27 com alguma comorbidade, por exemplo, doenças cardiovascular, hipertensão, diabetes, doença hepática gordurosa e IMC acima de 30, após ter tentado mudança no estilo de vida e não ter dado certo.

“A gente mudou esse conceito. A gente tem indicado medicações para obesidade antes de mudanças no estilo de vida em decisão compartilhada com o paciente. A gente leva em consideração não só o IMC mas medidas de adiposidade corporal excessiva”, afirmou Gerchman.

Tratamento

As medicações foram categorizadas de acordo com o perfil de eficácia, segurança e duração do tratamento.

Além disso, considerou-se também a possibilidade do uso off-label – que é o uso de uma medição que não foi especificamente aprovada para obesidade, mas que pode ser utilizada para esse fim com base em evidências clínicas e pesquisas que demonstrem eficácia e segurança.

“O uso dessa estratégia deve ser individualizado, levando em conta fatores como a saúde geral do paciente, a presença de comorbidades e a resposta prévia ao tratamento. Além de considerar a segurança, a tolerabilidade e a questão do custo”, afirmou o coordenador do Departamento de Farmacoterapia da Abeso, Marcio Mancini.

Publicidade

Estilo de vida

O documento estabelece que o tratamento com medicações deve ser associado, desde o início, às mudanças no estilo de vida e que os medicamentos com alta ou moderada eficácia – como semaglutida, tirzepatida e liraglutida – devem ser priorizados quando disponíveis.

“Esses fármacos demonstraram benefícios significativos em grandes ensaios clínicos. A semaglutida, por exemplo, reduziu em 20% os eventos cardiovasculares em pacientes com obesidade e histórico de doença cardíaca. Já a tirzepatida mostrou, em estudo com pessoas com pré-diabetes, uma redução de 99% na incidência de diabetes tipo 2”, afirmou o diretor da Abeso, Alexandre Hohl.

A diretriz também recomenda que as decisões sobre o tratamento da obesidade devem levar em consideração fenótipos alimentares, como padrões de comportamento alimentar e as preferências dos indivíduos, dando atenção a fatores genéticos, psicológicos, sociais e ambientais e outras características individuais dos pacientes.

“Identificamos que, ao classificar pacientes com base em comportamentos alimentares, conseguimos oferecer um tratamento mais direcionado e eficaz”, disse Gerchman.

Outro ponto do novo documento é o reconhecimento de grupos específicos que demandam atenção diferenciada, como idosos com sarcopenia (perda de massa muscular), pessoas com câncer relacionado à obesidade e indivíduos com insuficiência cardíaca.

Nesses casos, o tratamento da obesidade pode não apenas melhorar a qualidade de vida, mas ampliar a eficácia de outras terapias e reduzir complicações.

A diretriz também contraindica fórmulas com substâncias não validadas ou potencialmente perigosas, como diuréticos e hormônios, e alerta que o tratamento da obesidade deve ser contínuo.

“O que os estudos mostram é que, quando o medicamento é interrompido, o peso volta. A diretriz reconhece isso e recomenda a manutenção terapêutica com reavaliação constante”, explica o Marcio Mancini.

 Destaques da diretriz:

tratamento deve ser contínuo e individualizado: perda de peso de pelo menos 10% é considerada um alvo clínico relevante, com foco na melhora de comorbidades e qualidade de vida; inclusão de novos critérios de diagnóstico: o documento recomenda o tratamento de pacientes com complicações relacionadas à obesidade mesmo com IMC abaixo de 30, considerando medidas como circunferência da cintura e relação cintura/altura; reconhecimento da sarcopenia e de grupos específicos: pacientes idosos, pessoas com obesidade sarcopênica, apneia do sono, osteoartrose e doença hepática associada à obesidade agora têm recomendações específicas.

Segundo a Abeso, a diretriz foi construída com base nas melhores evidências científicas disponíveis e em consenso com 15 sociedades médicas.

Publicidade

Notícias relacionadas

Pacientes do SUS vão receber mensagens sobre uso contínuo de remédios

Baixar Tocar Pessoas que usam programas do SUS, Sistema Único de Saúde, vão passar a receber mensagens, a partir desta semana, pelo Whatsapp e pela caixa postal do aplicativo Gov.BR sobre o uso con

29 de Maio, 2025

Brasil reduz transmissão do HIV de mãe para filho

Baixar Tocar O Brasil praticamente zerou a taxa de transmissão do HIV de mãe para filho, a chamada transmissão vertical, e de infecção em crianças nos últimos dois anos. Em 2023, a taxa foi men

04 de Junho, 2025

Sistema Único de Saúde amplia tratamento para dermatite atópica

Baixar Tocar A dermatite atópica teve o tratamento ampliado no Sistema Único de Saúde nesta terça-feira. A mudança foi publicada no Diário Oficial da União. A rede pública de saúde incorporou

27 de Maio, 2025